As constatações resultam de uma avaliação feita pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), um trabalho que começou em março, mês em que a Total suspendeu as suas operações para exploração de gás em Palma, na sequência de ataques de grupos rebeldes à região.
Segundo uma nota divulgada na página da CTA, um dos principais entraves no processo de pagamento das empresas pela Total está ligado a dificuldades no reconhecimento da natureza contratual entre a multinacional e as companhias moçambicanas em questão.
"A CTA reitera a necessidade de aceleração do processo de pagamento das faturas pendentes devido à situação financeira débil em que muitas empresas moçambicanas se encontram e pela necessidade de injeção de liquidez que as mesmas precisam neste momento crítico, em que ainda se deparam com os impactos da pandemia de covid-19", refere a CTA, que acrescenta que está em contacto permanente com a multinacional.
Trabalhos suspensos desde março
A petrolífera francesa Total, líder do projeto da Área 1 no norte de Moçambique, suspendeu os trabalhos na instalação perto de Palma a 24 de março, no dia em que a cidade foi atacada pelos insurgentes, e um mês depois anunciou a suspensão de todo o projeto por tempo indeterminado.
Avaliado entre 20 e 25 mil milhões de euros, o megaprojeto de extração de gás da Total é o maior investimento privado em curso em África, suportado por diversas instituições financeiras internacionais e prevê a construção de unidades industriais e uma nova cidade entre Palma e a península de Afungi.
A primeira exportação de gás liquefeito está prevista para 2024, o mesmo ano em que a despesa de Moçambique em servir a dívida pública conhecerá um aumento significativo, resultante do adiamento da subida dos juros para o ano em que as receitas deveriam aumentar por via das exportações de gás.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
Fonte: DW