-Foi a África do Sul alugar um avião de 16 lugares para a operação suicida
-Aeroporto FJN opera sem balcão de emissão de bilhetes e sem serviços de handling
Dias depois da publicação, neste jornal, que dava conta que, passado o voo inaugural, o novo Aeroporto em Gaza não recebeu nenhum outro avião, uma pressão política iniciou, forçando as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) a incluírem nas suas rotas o Aeroporto de Chongoene. O primeiro voo comercial está agendado para iniciar no próximo sábado (18). O Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), braço empresarial do Estado, foi quem levou esse arranjo político às LAM após ordens superiores, à semelhança da fracassada rota Maputo – Lisboa. Após ceder à pressão política, a LAM foi alugar, na África de Sul, um avião de pequeno porte, de 16 lugares, como os que são usados para escalar pequenos aeródromo, no entanto, apesar das promoções resultantes da isenção das taxas aeroportuárias, a procura continua além do desejado e a pequena aeronave pode voar vazia.
Nelson Mucandze
Até há quatro dias, a companhia da bandeira não tinha incluído nas suas rotas a província de Gaza e por questões de viabilidade do negócio não estava nos planos operar aquela rota. E aos curiosos, a resposta da LAM era que não voava para Gaza.
Com receio de dar razão aos céticos que não acreditam na viabilidade do Aeroporto de Chongoene, uma decisão política, igual a que urdiu o fracassado voo Maputo-Lisboa, obrigou a companhia de bandeira a entrar numa missão suicida e fazer de tudo para incluir Gaza nas suas rotas.
O anúncio da boa nova foi feito no dia 10 passado, na página das redes sociais da LAM, e, momentos depois, a empresa Aeroportos de Moçambique, que chegou a gastar cerca de 1.3 milhões de dólares numa pálida campanha de marketing para promoção da imagem do novo aeroporto, anunciou a isenção de custos para democratizar os bilhetes de avião naquela rota.
A rota inclui, para além de Maputo – Xai-Xai, um voo para Joanesburgo a partir daquele aeroporto. Contudo far-se-á somente um voo por semana. O cartaz, nas redes sociais, já vem blindado e restrito a comentários. Não temos conhecimento de qualquer anúncio da LAM que tenha sido publicado naqueles moldes.
Ao que o Evidências apurou, a LAM teve que alugar um pequeno avião de 16 lugares na África do Sul, como que a justificar o baixo nível de procura. Até o fecho desta edição, Evidências soube, de fontes, que apesar das promoções, a procura se encontrava abaixo da metade, sugerindo mais uma despesa que pode não vir a ser coberta.
Na encenação para o voo não sair vazio, há lobistas que estão a pagar o voo para certas pessoas, bilhetes pagos para ida e volta no mesmo voo.
Enquanto o arranjo político viabiliza o voo triangular que irá fazer Joanesburgo – Maputo – Xai-Xai, há esforços para vender a ideia de que o investimento constitui uma necessidade. Mas no terreno, o Aeroporto continua despreparado e sem nenhum balcão de emissão de bilhetes e sem serviços handling, um serviço prestado em terra para apoio às aeronaves, passageiros, bagagem, carga e correio, à semelhança de MHS.
As campanhas de mobilização de passageiros contam com apoio dos Aeroportos de Moçambique (AdM), um insólito, quando uma empresa de aeroportos faz campanha a favor de uma companhia aérea.
Um suicídio a moda Voo Maputo-Lisboa?
A baixa procura pode ser explicada pelo facto de ser mais económico viajar via terrestre que via aérea. É que em termos de tempo, não há qualquer diferença: O tempo normal de check-in nos aeroportos são duas horas antes da partida, e de Maputo a Xai-Xai são 25 minutos de voo, a soma do tempo que se gasta de transporte aéreo é o mesmo que gasta na estrada. Até aqui, questiona-se o estudo de viabilidade e a proveniência dos dados que indicam que, anualmente, 200 mil passageiros vão voar para o aeroporto.
Apesar dos esforços para desmentir, o Aeroporto Filipe Jacinto Nyusi está longe de ser um destino preferencial para passageiros. Foi inaugurado com pompa e circunstâncias, mas poderá se tornar numa grande dor de cabeça para os gestores dos Aeroportos de Moçambique, que deverão fazer um esforço financeiro enorme para garantir a manutenção de mais uma infra-estrutura completamente improdutiva.
A agenda de voo para dia 18 surge depois do Evidências denunciar que numa pesquisa por bilhetes no site das Linhas Aéreas de Moçambique não tinha nenhum voo agendado para aquele destino, e em contacto com operadores aeroportuários e quadros seniores da LAM o Evidências confirmou o que já se temia: Nenhum voo escalou o elefante branco, que a qualquer dia pode virar um salão de
festas.
Duas semanas após a sua inauguração, o majestoso aeroporto de Chongoene, que leva o nome do mais alto magistrado da nação, continuava às moscas e as crianças de Gaza, até o prometido dia 18, não viram nenhum avião pousar naquele recinto.
A operação que está a ser ensaiada para a LAM é igual ao arranjo político que culminou com a criação do fracassado voo Maputo-Lisboa, que contribuiu para a degradação da já calamitosa situação financeira da empresa, antes de ser interrompido sob pretexto de Covid-19, mas sabe-se que foi devido a sua inviabilidade, não obstante o facto de o modelo de aluguer do avião ser por de ajustes de compensação de lugares a serem vendidos, mas assumindo outros custos operacionais, tais como de combustíveis, entre outros, que a operação acabou suspensa.
Especialistas no mercado já apelidam a aventura da LAM pelas terras de Gaza como uma operação suicida financeiramente, uma vez que tirando os gastos com o aluguer, os custos operacionais serem bastante altos, que podem não ser cobertos com a bilheteira por haver poucos passageiros dispostos a gastar mais de oito mil meticais por uma distância de 30 minutos, que podem ser feitos em duas horas e meia de carro, quase mesma hora que dura o período desde o check-in até a chegada ao destino. Sem contar que no caso de viajantes de férias teriam que alugar carro no destino, somando outros custos.
Fonte: Evidencias