Com a chegada à província de Cabo Delgado de forças externas, do Ruanda e da SADC, para ajudarem o Exército local a combater a insurgência, repetem-se os anúncios de vitória no palco de guerra. Para além de repelirem os insurgentes, recuperaram as áreas tomadas e algumas já começam a ser repovoadas.
Porém, a resposta dos insurgentes começa a chegar de outros lugares, como da província do Niassa, por exemplo. Assassinatos, raptos e destruição já são uma realidade na província vizinha de Cabo Delgado. E há até casos de aldeias de Cabo Delgado que estão a ser novamente alvo de ataques. A nova faceta da guerra já era esperada, para a especialista em contraterrorismo, Jasmine Opperman
Opperman defende que "a sustentabilidade em contra-insurgência é central para o sucesso [da guerra]", mas alerta para um problema: a falta de confiança em matéria de inteligência militar entre as forças militares conjuntas.
A DW conversou com ela sobre os desafios que se impõem agora para as forças conjuntas.
DW África: O alastramento da insurgência para o Niassa e outras províncias prova que a insurgência está longe do fim?
Jasmine Opperman (JO): A luta contra a insurgência falhou logo do começo. Se olharmos para a ocupação de Mocímboa da Praia, o treino que tiveram, a liderança que tem e a ligação ao Estado Islâmico (EI), vimos uma situação típica do Afeganistão e do Mali. É extremamente difícil pôr fim a esta violência tão intrincada. Qual é o objetivo final de Maputo? É livrar-se da insurgência ou garantir apenas um corredor militar para o gás (LNG)? Isso levanta uma questão séria. Segundo, há um choque de titãs, temos uma séria competição de interesses, com a França a apoiar o Ruanda, sem sombra de dúvidas, até financeiramente, para proteger Palma e Mocímboa da Praia. Há uma grande área extremamente difícil de cobrir e os terroristas estão agora a dirigir-se para o Niassa, e esta província oferece as condições ideais para a insurgência: poucas infraestruturas, comida, água, e há dois anos é um centro de recrutamento. Esta expansão já era esperada e isso não me surpreende nada, era previsível. Então, a insurgência está longe do fim. Abordar as causas de que todos falam e uma solução vai levar gerações. Temos de ter paciência para lidar com isso a longo prazo.
A Total expressou o seu desejo de que haja condições para que a exploração do gás continue por causa de interesses económicos, e a ENI está a pressionar, o que é compreensível. Só não acho que o tempo esteja do lado deles. O tempo está do lado dos insurgentes. E não veremos o fim disto nos próximos cinco anos. A insurgência está à espera, usam a parte interna para se movimentarem e atacarem em pequena ou grande escala. Estão a avançar, estão a espalhar-se geograficamente tornando a situação extremamente difícil. E, enquanto as contra-forças quiserem permanecer nas estradas principais, os insurgentes estão a sorrir.
Fnte: DW