Fonte diplomática em Bissau disse, ao Jornal de Angola, por telefone, que "a serenidade voltou a Bissau, pelo menos para já”, admitindo a possibilidade de, nos próximos dias, poderem surgir alguns desenvolvimentos.
À hora do fecho desta edição, ainda não eram claros os contornos desta tentativa de golpe de Estado, nem quem são os protagonistas, havendo demasiadas especulações para que se possa retirar uma certeza absoluta.
Vários tiros foram ouvidos perto da hora de almoço junto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do Primeiro-Ministro, Nuno Nabiam.
Segundo fonte governamental, militares entraram ao fim da tarde no Palácio do Governo e ordenaram a saída dos governantes que estavam no edifício. De acordo com as agências internacionais, os militares ergueram barreiras de segurança em redor da zona, para impedir a circulação de civis e veículos.
Segundo testemunhas contactadas pela Lusa, também perto do Palácio da Justiça estava uma brigada de intervenção e vários militares e elementos das forças de segurança. As relações entre o Chefe de Estado e do Executivo têm sido marcadas, nos últimostempos, por um clima de tensão, agravado, nos últimos meses de 2021, por causa de um avião Airbus A340, que o Governo mandou reter no Aeroporto de Bissau, onde aterrou vindo da Gâmbia, com autorização presidencial.
Na sequência desse incidente, o Presidente Umaro Embaló procedeu a uma re-modelação governamental. Numa primeira fase, esta remodelação foi contestada pelo Primeiro-Ministro, Nuno Nabiam, que um dia depois veio contradizer-se e afirmar que tinha sido previamente informado e dado o seu acordo. Na sexta-feira, Umaro Embaló, aconselhou os partidos políticos na coligação no poder a preparem-se para as eleições legislativas, previstas para 2023. Este aviso foi entendido como uma resposta directa às críticas que lhe foram feitas com esta remodelação.
Numa carta enviada ao Primeiro-Ministro, o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), parceiro da coligação que apoiou Umaro Embaló, referiu que não se devia avançar com a referida remodelação, sem antes convocar a cimeira de líderes, para analisar as propostas do chefe do Governo.
O Madem-G15 disse também que todas as propostas de remodelação devem ser feitas no quadro da aliança, "porque fora da esfera deste quadro não será caucionada” pelo partido e "consequentemente não terá o respaldo parlamentar desta formação política na Assembleia Nacional Popular”.
Além da APU-PDGB e do Madem-G15, a aliança no Governo integra também o Partido de Renovação Social. A nova orgânica do Governo da Guiné-Bissau passa a ter 22 ministérios e nove secretarias de Estado.
Angola condena a acção
Angola condenou, "na qualidade de presidente em exercício da Comunidade de Países de Língua Portuguesa”, a tentativa de golpe de Estado na Guiné Bissau.
Num comunicado do Ministério das Relações Exteriores, ontem distribuído, lê-se que Angola "condena veementemente a tentativa da tomada do poder pela força na Guiné-Bissau, Estado Membro de Pleno Direito da Comunidade”.
"A Presidência em exercício da CPLP saúda a firme resposta das autoridades nacionais, encabeçadas pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, que levou ao restabelecimento da ordem e apela à calma e à tranquilidade”, conclui o comunicado.
Apelo da ONU
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou, ontem, ao "fim imediato” dos "combates violentos” em Bissau e ao "pleno respeito pelas instituições democráticas do país”.
Num comunicado, Guterres disse estar "profundamente preocupado com a notícia de combates violentos em Bissau”.
Na mensagem, o antigo Primeiro-Ministro português pede também "o fim imediato dos combates e o pleno respeito pelas instituições democráticas do país”.
CEDEAO
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenou, terça-feira (01), em comunicado, a "tentativa de golpe de Estado” na Guiné-Bissau e culpabiliza os "militares responsáveis” pela "segurança do Presidente Umaro Sissoco Embaló e membros do seu gabinete”.