Segundo disse à DW África o historiador José Milhazes, a invasão russa da Ucrânia vai beneficiar financeiramente economias africanas dependentes do petróleo.
"Vão vender esses produtos a preços muito mais altos", disse Milhazes, que contemplou a economia angolana entre as que poderão lucrar mais.
O também jornalista questiona a capacidade económica e financeira da Rússia em manter-se, em simultâneo, em várias frentes de combate na Europa e África.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, tem cindo a acusar Moscovo de apoiar uma campanha "antifrancesa" em vários países africanos, onde operam mercenários de segurança russos do grupo Wagner, próximo do regime no Kremlin.
Para o professor de Filosofia africana na Universidade Pedagógica de Maputo, José Castiano, a guerra irá impactar a economia de países como Moçambique.
"Penso que o efeito vai ser mais negativo do que positivo, porque nós importamos o petróleo de outros", disse o investigador, que alerta também para as consequências sociais em Moçambique. "Quando sobe o preço do petróleo, o preço de outros produtos dispara logo. Vai ter consequências gravíssimas para Moçambique".
Desinteresse em Cabo Delgado?
Outro ponto negativo para os moçambicanos, segundo Castiano, é que, com a guerra na Europa, os ataques armados em Cabo Delgado, no norte do país, terão menos prioridade aos olhos da comunidade internacional.
"A grande consequência imediata será esquecer a terrível guerra em Cabo Delgado. Nas últimas três semanas houve um grande engajamento da União Europeia. Mas agora, com a situação na Ucrânia, deixa de ser a prioridade da comunidade internacional", disse o analista à DW África.
O atual líder do Partido Republicano para a Independência e Desenvolvimento (PRID) na Guiné-Bissau, Afonso Té entende que a atitude do Presidente russo Vladimir Putin poderá reforçar os regimes autocráticos em África.
"Foram as potências mundiais que impuseram a democracia em África. Não fosse isso, teríamos ainda muitos regimes autocráticos no continente. Quem nos garante que esses autocratas africanos não encontram no Putin um novo aliado para consolidar os seus interesses?", receia o ex-oficial militar na reserva.
Fonte: DW