O grupo da Junta Militar da RENAMO teria se reunido na semana passada, elegendo novos quadros, e um novo líder numa das suas bases, nas imediações da serra da Gorongosa, afirmou o diretor de operações no Estado maior das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique, Chongo Vidigal.
A fonte do Governo moçambicano falava este final de semana, na Beira, durante a Cerimónia de abertura do "Ano Operacional e Desportivo Militar das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM)", na qual fez parte o ministro de Defesa, Cristóvão Chume.
"Nós temos a informação de que, recentemente, houve eleições internas", disse Vidigal, e que "foram nomeados, ou eleitos, novos dirigentes. Quer dizer que este grupo [a Junta Militar da RENAMO] para todos os efeitos, continua", disse.
"Não desativou-se esforços"
O militar afirmou ainda que por isso, "não desativaram os esforços, e que isso está no teatro operacional". "É verdade que fizemos alguma alteração em função da situação atual, mas ainda é um ponto que nos preocupa e estamos atentos a esta situação, e a monitorar na base das atividades operativas diárias, para poder inverter qualquer cenário", explicou.
Segundo Vidigal as tropas governamentais querem garantir a ordem e segurança na região do centro de Moçambique. "Depois da morte do principal líder da Junta Militar [da RENAMO, Mariano Nhongo] o quadro da situação alterou profundamente. Mas a situação não terminou com isso. Aliás, quando se elimina um líder, não significa que a força deixe de existir", argumentou.
Questionado sobre a identidade e perfil dos novos quadros da autoproclamada Junta Militar, a fonte da tropa moçambicana respondeu que, como não é o porta-voz da junta, "será difícil comentar sobre a situação deles", explicou.
"Mas sei que, em relação ao processo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), está encaminhado, e está a ver-se o progresso. Até este momento, a informação que tenho, é que continua. As partes comprometeram se a cumprir, os passos estão sendo dados", disse.
Seis meses após morte de Mariano Nhongo
A DW África apurou, entretanto, que integram o grupo antigos militares da RENAMO, que no passado teriam aderido ao processo do DDR. Esta recomposição do grupo acontece seis meses depois da morte de Mariano Nhongo, que fundou e liderou o grupo desde 2019, contestando a liderança do partido RENAMO.
Em setembro passado, após a morte de Mariano Nhongo, em combate com as forças governamentais, uma fonte anónima ouvida pela DW África afirmou que a morte do mesmo não significava o fim do grupo.
Na altura, a mesma fonte assegurou que brevemente o grupo iria reunir-se, numa segunda conferência nacional, para falar da morte do seu líder, Nhongo, e eleger novos quadros. Sobretudo, depois da saída de vários indivíduos que militaram no grupo desde a sua fundação, em princípios de 2019.
A fonte considerou, porém, que há espaço na junta para negociar com o Governo de Moçambique a deposição das armas. Mas, em todo caso, o grupo diz aguardar o Governo de Filipe Nyusi oferecer garantias de segurança, e parar com as perseguições contra elementos do grupo da Junta Militar.
Governo e RENAMO
Em entrevista à DW África, o analista político Wilker Dias considerou que a RENAMO e o Governo "desleixaram-se" após a morte de Mariano Nhongo. O analista assegura que ambas as partes deveriam tomar a iniciativa de chamar a razão aos integrantes da junta quando perderam o seu líder. Para dias, o reagrupamento deste grupo pode ter impactos negativos no centro do país.
"Este reagrupamento da Junta Militar constitui uma ameaça para a paz e estabilidade na zona centro do país, após a morte de Mariano Nhongo. Verificou-se que este grupo ficou praticamente separado, dividido, e sem ação nos dias subsequentes à sua morte. Como consequência deste desleixo, verificamos o reagrupar deste movimento, que pode constituir uma ameaça à integridade de todos os moçambicanos, numa altura em que temos o conflito de Cabo Delgado".
"A RENAMO deverá ter uma certa influência na acessibilidade desses indivíduos que estão a se reagrupar. Mas em termos de persuasão, e condições para que essas pessoas possam largar as armas, essas garantias devem ser dadas pelo Governo", acrescentou.
Fonte: DW