Cem oficiais e sargentos moçambicanos estão a ser treinados para lidar com o crescente número de crianças-soldado em campos de batalha no norte e noutros conflitos em Moçambique, disseram fontes oficiais. A iniciativa, inserida no programa "Prevenir utilização de crianças-soldados em Moçambique", do Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef), foi lançada terça-feira (16.11) em Chimoio, Manica, centro de Moçambique.
O objetivo é especializar membros das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) no respeito, promoção e proteção dos direitos das crianças, sobretudo as envolvidas em conflitos em Cabo Delgado (norte), e nas províncias de Manica e Sofala, centro do país.
"A situação que está a ser vivida no centro e norte do país requer que as FADM estejam preparadas para a situação em que enfrentam crianças, não só como beligerantes", defendeu Carla Mussa, representante do Unicef em Moçambique, salientando que várias crianças entram para os conflitos como vítimas.
Segundo esta responsável, várias crianças são instrumentalizadas e usadas nos seus diferentes papéis, "no campo de batalha, como informadores, como carregadores de materiais", sobretudo no conflito armado envolvendo terroristas em Cabo Delgado.
"Na situação em que as forças de defesa são confrontadas com uma criança armada, têm que ter ferramentas necessárias para medir, mensurar aquilo que são as ameaças e usar proporcionalmente as medidas de prevenção e mitigação necessárias", antes de referir as crianças, de forma segura, para as autoridades de tutela, frisou Carla Mussa.
"A partir do momento em que conseguimos olhar uma criança como vítima, todo o tratamento dispensado a esta criança vai ser diferente" para a sua recuperação e integração na sociedade, acrescentou Carla Mussa.
O comandante do quinto batalhão de infantaria de Chimoio, o coronel Lucas Impide, reconheceu que as diferentes especialidades do exército moçambicano no Teatro Operacional Norte enfrentam dificuldades em lidar com crianças soldados em campos de batalha, considerando por isso crucial o treinamento para o contexto do conflito.
"Temos tido dificuldade"
"As guerras atuais, principalmente as de terrorismo, muitas das vezes usam crianças como militar. As crianças são instrumentalizadas, e às vezes quando nos deparamos com elas no campo de batalha, temos tido muita dificuldade de agir ou de interagir", afirmou Lucas Impide.
A formação das várias especialidades do exército, disse, vai permitir a proteção da criança em situação de conflito armado, particularmente contra as ações terroristas em Cabo Delgado.
"A luta aqui é de tirar a criança sã e salva, embora esteja empunhando uma arma, temos de resgatar e integrar na sociedade" vincou.
A capacitação, a primeira a decorrer em Moçambique envolvendo membros do exército, e com duração de 15 dias, está a ser orientada pelo Instituto Dellaire, especializada em questões de paz e segurança de crianças envolvidas em situação de conflito.
Fonte: DW